A Submissão quando floresce, apresenta uma beleza
de suave tristeza e doce acolhimento, como a nos consolar, convidando-nos para deflorá-la sem escrúpulos ou piedade. Aparece como uma brisa cálida que excita as emoções,
com sua suave tristeza desfilam em ruas e becos exalando
um perfume de lotos em flor, mais do que meu olfato
desperta os meus olhares e as minhas memórias.
Seu choro contido é a música mais doce do mundo. Adoro
as notas musicais da garganta engasgada pelo pranto
sufocado em razão das feridas deixadas em suas sensações
pelo meu sadismo que ardem, mas não infectam. Delas jorram melancolia, alucinações e dor em vez de sangue. Quando
em meu paciente oficio de sacerdote do sadismo sigo a
liturgia de um ritual pervertido e perversor no altar da
lasciva que desenvolve lentamente sorvendo a essência da oferenda que se abandona em sacrifício suavemente triste
em absoluta submissão e quando toda celebração termina,
tudo se acalma de novo dentro de mim. Então vou para o
trabalho, vou para o cotidiano e não penso mais nisso.
Não tenho remorsos, apenas fico saciado de prazer e vivo
as delicias do paladar adocicado da alma submissa que
se deu em oferenda no altar do meu sadismo.
A Submissão tem uma tristeza simpática, doce, atraente
e sedutora. Nunca descobrirei a causa de esta suave tristeza
ser tão deliciosamente atraente, mas decide que nunca
hei-de investigá-la. Não desejo saber tudo. Desconfio que
seja por eu ser, por natureza, o oposto de curioso. Sinto-me perfeitamente feliz deixando esse mistério como mais um ingrediente encantador da natureza submissa. A tristeza da submissa é tão terrivelmente pura e autosatisfeita que se
ofende quando alguém tenta passá-la à frente. Castiga
quem se aproxima com a intenção de interpretá-la e
desvende-la. O nosso desejo é sempre mais forte quando
não sabemos tudo, fica sempre o convite para ir mais alem.
A submissão me encontra onde quer que seja, eu apenas
a espero. Deixo-a acariciar-me. Como devo dizer? A
tristeza suave da submissa é um choro melodioso, uma
evocação ao meu sadismo.
( Um texto de Dom Resende )
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