terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Tocas-te?


Claro que se tem medo que alguém nos entre pelos olhos.
Mas podes arder. Para a tua temperatura sou mercúrio,
linhas de mão, lábio e sopro. 
Atravesso-te porque me atravessas e onde somos corsários
 rendemo-nos ao encanto da devolução.
Tu e eu à porta de um lugar que vai fechar tudo numa árvore.
Aqui onde os minutos são a rua em que nos sentamos toda
a tarde à espera do silêncio, onde o teu corpo pesa 
a medida exacta do meu desejo.
Sou um animal. 
Necessito diariamente da transfusão 
de uma enorme quantidade de calor. 
  Tocas-me?

(Vasco Gato)


Decidi...


" Decidi que não vale a pena se entregar, 
se doar, se não for para receber 
na mesma dose também. 
Decidi que não vale a pena quebrar a cabeça, 
me esforçar, tentar, se não for 
para você se esforçar também. 
Decidi que não vale a pena insistir em algo
 que não está dando nenhum retorno para mim. 
Decidi que só vale a pena se for recíproco, 
correspondido, equilibrado, na mesma dose. 
Decidi que só vale a pena se tiver harmonia, 
igualdade, estabilidade. 
Decidi que só vale a pena se o sentimento, 
se a vontade, se o esforço for mútuo. 
Decidi que só vale a pena se for para ser companheiro, 
amigo, amante. 
Decidi que sou inteira demais para aceitar 
alguém pela metade. 
Comigo meu bem não tem essa de oito ou oitenta, 
ou se entrega ou não se entrega, 
ou ama ou não ama, ou quer ou não quer, 
ou valoriza ou então vai embora. " 

(Bárbara Flores)

Beijo


Existem muitos tipos de beijos: aqueles com doçura, 
de paixão, de lealdade, de apoio, de curiosidade, de descobrir...
E depois há o absoluto beijo. Aquele onde os lábios fazem amor. 
Onde vira a alma do outro boca e eu absorvo gota a gota. 
Beijo profundo enorme, quente e pulsante como o coração vivo. 
O beijo é um lançamento da alma ao céu, uma declaração 
de amor, um pedido de socorro, um obrigado, 
um perdão, uma canção à vida e, 
ao mesmo tempo, um testamento. 
Porque na parte inferior da língua, vida e morte são nulas, 
para a duração desse momento perfeito.

(Carolina Turroni)

A voz que acalma...



A voz que acalma o mar, acaba com a tormenta que 
se faz dentro de mim. 
Mas talvez o fato não seja acalmar a tormenta. 
E sim estar no meio dela completamente nua... 
a calmaria nos avassaladores todos os dias. 
Enfrentar uma tormenta nos faz sentir vivos...